O conforto de dentro e o conforto de fora



Tenho uma tendência em crer que os eventos pelo qual me interesso irão lotar, assuntos tão interessantes, peças de teatro, dança, cursos, retiros…

Mas, depois de me aligeirar em fazer inscrição, comprar ingressos e chegar até o local me surpreendo ao ver tão poucas pessoas com os mesmos interesses.

Parece-me que o apelo ao conforto externo, móveis fofos, longas horas à cama, ao sofá, imagens que se movimentam na tela por si, saem à frente de qualquer coisa. Mas, algo me diz que essa sede de conforto externo mais quer é saciar a necessidade de conforto consigo, de conforto interno. Fechar os olhos e dormir sem medo e pré-ocupações, sentar, deitar, caminhar sentindo o corpo saudável, flexível, abrir os olhos e permitir observar a vida sem tanta aversão e nem tanto apego, um pouco mais entregue, mais solto.

Talvez a grande dificuldade seja o confronto com o espelho que precede o conforto interno, essencial, urgente.

Fechar os olhos no Yoga ou na meditação, expressar as emoções na terapia, assistir a vida de fora num retiro ou numa peça de teatro às vezes ou muitas vezes pode ser desconfortável, desagradável e até doloroso. Mas, no processo de se conhecer vai se instalando uma intimidade, um bem estar consigo e, portanto com o mundo, daí o sofá já não precisa ser tão macio, o tapete não precisa ser tão fofo, a cama não precisa ser tão grande, porque o conforto está bem instalado internamente.

É difícil dar os primeiros passos em direção ao autoconhecimento especialmente quando ao espiar pela fresta da porta o interior da casa está sem receber atenção há anos, talvez uma vida. E o sofá, a sala, a televisão são magnéticos, mesmo que não tenham aqueles imãs dos colchões orientais. Daí fica mais difícil de chegar no tapetinho de Yoga, na meditação, no encontro com o terapeuta.

Os dias passam e se não é dada atenção ao conforto de dentro, ficamos cada vez mais exigentes com o conforto de fora que dá cada vez menos conta de nos confortar. Aí é preciso confrontar para confortar.

A auto-observação e a auto-análise são ferramentas ao alcance de todos, a todo o momento do dia. É questão de criar o hábito de se perceber: sentir como está o corpo, como está a respiração, a postura, quais os pensamentos que vêm, que vão, os que não vêm, os que não vão, perceber as emoções especialmente as que se repetem e com que frequência se repetem. Só isso ou tudo isso já pode dar um outro sentido à vida. Esse é um hábito que pode ser inicialmente difícil de ser conquistado por isso as aulas de Yoga, os espaços para meditação, os espaços de terapias!

Então espreguice o corpo, respire fundo e rume ao autoconhecimento e talvez em breve descubra sentir que o chão, com um fino tapete, pode ser o lugar mais confortável do mundo quando o corpo está no prumo, a respiração a plenos pulmões e as emoções e a mente clara.

Janine Schmitz

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